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A ITF dá as boas-vindas a novos navios em Liverpool, mas alerta a Atlantic Container Line sobre trocas de tripulação

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Liverpool é cidade de origem de vários navios que carregam a bandeira do Reino Unido, um sinal de que a nação insular poderia novamente reclamar seu posto de líder marítimo. Porém, as empresas de navegação precisarão fazer mais do que defender a reputação do Reino Unido no meio da crise de trocas de tripulação, disse o inspetor da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes, Tommy Molloy.

Em outubro de 2016, o Porto de Liverpool celebrou o registro de um novo navio pertencente à Atlantic Container Line (ACL) no Reino Unido. Foi um dos cinco navios registrados no Porto de Liverpool. A princesa britânica Anne visitou o porto para batizar a mais nova embarcação, o Atlantic Sea, na ocasião. Foi a primeira vez nos últimos 50 anos que um membro da família real batizou uma embarcação no porto. O diretor executivo da ACL, Ian Higby, disse que “Poucos navios têm carregado o famoso nome da cidade nos últimos anos e é bom vê-lo de volta onde pertence”.

Tommy Molloy disse que a ACL deve agir na crise atual de trocas de tripulação para levar seus marítimos para casa se a empresa quiser estar à altura do padrão da bandeira britânica e defender a reputação de porto de classe mundial do Liverpool.

“A empresa tem tido uma reputação decente no passado e os marítimos têm valorizado seu emprego com ela. Mas, é preocupante quando os tripulantes entram em contato anonimamente implorando por ajuda para serem repatriados para suas casas e famílias, enquanto estão assustados demais para revelar suas identidades. Os marítimos a bordo dos navios da Atlantic estão claramente preocupados com a repercussão que enfrentariam por se recusarem a continuar a trabalhar após o término de seus contratos”, disse Molloy.

Nos termos da Convenção do Trabalho Marítimo, um marítimo tem o direito de parar de trabalhar e voltar para casa às custas do empregador após o término de seu contrato. O tempo máximo que um marítimo pode ficar a bordo é 11 meses.

Porém, o exercício desse direito tem se tornado difícil, mesmo impossível, para 300.000 marítimos que a ITF estima que estejam presos trabalhando a bordo das embarcações do mundo. Outros 300.000 marítimos estão desempregados, esperando desesperadamente para substituir aqueles que ainda estão nos navios. As principais causas da “crise de trocas de tripulação” são as fronteiras fechadas pelos estados do porto, países de trânsito e pelos países de origem dos marítimos, assim como a falta de voos disponíveis.

Molloy disse que muitos marítimos em toda a indústria não dizem nada por medo de não serem mais empregados e sentem que não têm opção além de assinar mais e mais extensões do contrato original, mesmo se, ao fazer isso, estejam violando as normas nacionais e internacionais.

Frequentemente, a ITF tem que se envolver para garantir a defesa dos direitos dos marítimos. No caso da Atlantic Container Line, Molloy teve que desenrolar uma rede de entidades proprietárias e contratantes para ajudar a tripulação, na sua maioria das Filipinas, a fazer cumprir seu direito de desembarcar.

“Os proprietários da embarcação estão registrados como situados nos EUA, os proprietários registrados estão na Suécia, a empresa mãe na Itália e os gerentes estão em Mônaco. Eu entrei em contato com vários deles em 6 de julho perguntando se iriam substituir a tripulação que tinha excedido seus contratos quando o navio chegou em Liverpool, o porto de origem do navio”, disse Molloy.

Em um email, Molloy disse à empresa que o Reino Unido considerava os marítimos trabalhadores essenciais e que não havia impedimentos para os tripulantes saírem em Liverpool. A empresa disse que havia dificuldades com a organização de voos para entrar e sair das Filipinas.

“Eles me disseram que tinham tentado e não conseguiram voos do Reino Unido para Manila. Eu encontrei e enviei a eles dados de voos disponíveis, embora caros, de Manchester e Londres e disse a eles que tinham muitas opções para substituir esses marítimos – existem 300.000 em todo o mundo esperando para assinar contratos”, disse Molloy.

“Eles me disseram que isso não seria possível devido a problemas operacionais e de conhecimento da embarcação e não seria seguro. Eu lembrei a eles que a indústria está protestando coletivamente contra os governos que não colaboraram por permitirem a situação insegura de tripulantes a bordo muito além da expiração de seus contratos. Alguns desses marítimos não desembarcam há 1 ano – o quanto isso é seguro?”

Graças aos esforços da ITF, em 19 de julho, cinco tripulantes deixaram o navio em Liverpool e foram substituídos por marítimos da Bulgária, que então tripularam o navio.

Molloy disse que os tripulantes filipinos desembarcados ficaram em um hotel por vários dias antes de pegarem voos para casa para ver a família que não viam há meses.

Mas infelizmente, nem todos os tripulantes tiveram coragem de arriscar a ira de seus empregadores solicitando repatriação. Molloy revela que a embarcação da ACL partiu de Liverpool para o Canadá com vários tripulantes filipinos que já estavam quase 15 meses a bordo, muito mais tempo que os nove meses inicialmente contratados.

Molloy explicou que “Eles entraram em contato com a sede da ITF em Londres e nossos inspetores na Alemanha, Antuérpia e Liverpool, implorando para os tirarmos de lá. Mas, fizeram isso de forma anônima, sem revelar quem eram. Infelizmente, precisamos que os marítimos solicitem abertamente a repatriação. É a única forma de ajudar a tirá-los de portos como Liverpool e garantir que cheguem em casa.”

“O fato de os marítimos estarem assustados demais para levantar a mão e parar de trabalhar e pedir para voltar para casa é motivo de muita preocupação para a ITF. Também é preocupante que algumas empresas possam estar usando as dificuldades logísticas da crise atual como desculpa para não fazer trocas de tripulação.”

“Entendemos que neste momento os voos estão caros e é por isso que estamos defendendo que mais voos sejam disponibilizados com a ajuda dos governos. Mas, o alto preço dos voos não é motivo para atrasar as repatriações na esperança de que o preço vá diminuir. Nos termos da Convenção do Trabalho Marítimo, os empregadores têm responsabilidades de levar os marítimos para casa após o término de seus contratos – e os empregadores ainda estão ganhando dinheiro durante esta pandemia. Atrasar ainda mais seria um tapa na cara dos marítimos após a lealdade e paciência que eles demonstraram ao longo desta crise”.

“Sabemos o impacto que ficar preso a bordo dessas embarcações está tendo sobre a saúde física e mental dos marítimos. Não é aceitável nem sustentável que fiquem separados de suas famílias – quase sempre sem recursos de comunicação – por períodos bem mais longos que os originalmente aceitos. Eu suspeitaria que o suicídio é agora a principal causa de morte de marítimos. Os empregadores precisam aproveitar todas as oportunidades para repatriar e aliviar sua tripulação, antes que seja tarde demais”, disse Molloy.

 

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