Luis Alberto Veloso é um dos quatro marítimos abandonados a bordo do navio com bandeira do Togo MV Onda que não recebiam salário há um ano. O navio e sua tripulação foram abandonados no porto de Douala, em Camarões, pela Amin Shipping, uma empresa com um histórico de não pagar os tripulantes.
“Eu trabalho neste navio desde 4 de dezembro de 2019”, diz o marítimo no vídeo. “Após uma viagem para Niger, recebemos no máximo um mês de salário. Depois disso não recebemos mais salário.”
O dono do navio, Mohamed Amin, da empresa Amin Shipping Company do Líbano, alega que está pagando a tripulação.
Quatro dos sete tripulantes alegam que suas assinaturas em recibos de salário foram falsificadas. E dizem que o imediato foi abusivo.
“Estávamos sujeitos a comentários racistas, como ‘esses negros de m.’”, contou um marítimo africano sobre o que era dito para alguns tripulantes, mostrando provas fotográficas dos insultos escritos do imediato.
“O dono do navio não pretendia pagar nossos salários”, escreveu ele, acrescentando que não tinha conseguido pagar seu aluguel em casa. “Estamos cansados. Nós não temos crédito para chamadas telefônicas.”
Os tripulantes pediram ajuda à Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) em setembro do ano passado. Mas todas as correspondências com o dono do navio nos últimos quatro meses foram inúteis.
Representantes do sindicato embarcaram no navio e confirmaram violações à Convenção do Trabalho Marítimo. Os marítimos estavam assando peixe em uma fogueira no convés e coletando água da chuva para sobreviver. A ITF teve que interferir duas vezes e fornecer provisões de emergência para os tripulantes.
“O proprietário continua a dar todo tipo de desculpa e o Estado da bandeira não está cumprindo suas responsabilidades”, disse Steve Trowsdale, coordenador da Inspetoria da ITF. “Ele continua só nos iludindo.”
Amin escreveu que ele não conseguia transferir dinheiro do Líbano devido à crise econômica e de Covid-19. Ele disse que voou para os Camarões para pagar os tripulantes.
“Nosso pessoal aqui sabe se nós estamos fornecendo alimentos, água e combustível para as embarcações”, escreveu Amin em janeiro para a ITF, negando qualquer roubo de salários ou falsificação.
“Antes de ontem adiantamos algum dinheiro para os tripulantes, como também fizemos nos últimos 10 dias”, acrescentou ele por email para a ITF. “Assim, achamos que vocês devem atualizar suas informações.”
Trowsdale está preocupado que Amin esteja pagando por reparos no navio e suspeita que o proprietário esteja tentando consertar a embarcação para poder movê-la ou vendê-la.
Veloso e os outros marítimos no MV Onda querem desembarcar. Três deles vivem localmente, mas sabem que, ao deixarem o navio e navegarem, suas chances de receber os salários devidos é quase nenhuma. Amin acabou de pagar US$ 1.600 em dinheiro para quatro marítimos, mas ainda deve a eles salários atrasados.
Em correspondência com o dono do navio, o registro de Togo exigiu prova de todos os pagamentos de salário e provisões dos tripulantes. Eles responsabilizaram os proprietários por falsificação do seguro e classificação do navio, com a denúncia da ITF sobre abandono da tripulação para a Organização Internacional do Trabalho. Mas o Estado da bandeira ainda tem que cumprir sua promessa de 25 de setembro de suspender ou expulsar a embarcação de seu registro.
Trowsdale diz que o registro togolês não fez o seu trabalho.
“Esta embarcação tem navegado sem seguro e sem classificação durante os últimos anos. Por que eles não tomaram providências quanto a isso, e por que eles não atuaram para dar apoio aos marítimos a bordo?”, pergunta Trowsdale.
Ele disse que foi deixado para a ITF revelar a documentação fraudulenta do MV Onda. Nos papéis constam a seguradora Al-Bahrain Insurance do Líbano como sua seguradora P&I, mas eles confirmaram que não fornecem seguro para a embarcação desde 2016. A documentação da embarcação citando a sociedade de classificação de navios International Naval Surveys Bureau em sua classificação também não foi confirmada.
Amin alega que não há marítimos a bordo, somente vigias que não têm certificação ou registro de marítimo. Mas a ITF verificou que os quatro tripulantes são, na verdade, marítimos qualificados.
O caso atual de exploração não é a primeira vez que marítimos empregados no MV Onda tiveram que denunciar o dono do navio por abuso de tripulantes. Em dezembro de 2018, os tripulantes indianos a bordo do Onda disseram que lhes foi negado pagamento e rações. Um marítimo, Mohammed Jubeen Khan, disse à imprensa que Amin recusou-se a pagar seus salários por 18 meses. Como Veloso, os companheiros tripulantes de Khan foram obrigados a coletar água da chuva para sobreviverem. Ao se recusarem a deixar o navio sem pagamento, a Amin ameaçou-os de prisão.
Mais uma vez, uma tripulação a bordo do MV Onda está determinada a enfrentar a Amin Shipping.