O estudo publicado hoje revela que os fundos de incentivo aos transportes públicos, para proteger e expandir os postos de trabalho nas cidades são vitais para uma recuperação verde e justa da COVID-19.
Um investimento adequado nos transportes públicos criará 4,6 milhões de postos de trabalho adicionais na próxima década e reduzirá as emissões do setor dos transportes em mais de 50% em todas as cidades da C40.
30 de março de 2021 — Trabalhadores de transportes, sindicatos e presidentes de câmaras das principais cidades mundiais, incluindo Los Angeles, Milão, Jacarta e Tshwane uniram esforços para exigir que os governos façam uma injeção urgente de fundos de incentivo nos serviços e infraestruturas dos transportes públicos, a fim de impulsionar estímulos econômicos, criar milhões de empregos e juntamente enfrentar a crise climática. O número de passageiros diminuiu durante a pandemia de COVID-19, ao mesmo tempo que também diminuíram as receitas - as agências de transportes públicos de cidades de todo o mundo enfrentam um déficit de financiamento crítico que ameaça empregos e serviços.
O estudo publicado hoje, “The Future of Public Transport” (O Futuro dos Transportes Públicos), comprova que o investimento nos sistemas globais de transportes públicos não só irá salvaguardar os empregos existentes, como também criará milhões de empregos decentes e sustentáveis e reduzirá as emissões do setor dos transportes nas cidades em mais de 50% na próxima década. Num momento de desemprego em massa e dificuldades econômicas globais, a proteção do emprego e o estímulo às oportunidades de emprego beneficiarão milhares de pessoas que mais precisam e dependem dos transportes públicos - os trabalhadores essenciais que prestaram serviços vitais durante a pandemia, as mulheres, os jovens e as comunidades marginalizadas.
O estudo considera que um investimento adequado nos transportes públicos poderia:
- Criar 4,6 milhões de postos de trabalho adicionais até 2030 em 100 cidades da rede da C40 e nas respetivas cadeias de abastecimento, com impacto econômico multiplicado em resultado de um maior acesso aos transportes públicos. Aplicando às cidades em todo o mundo, isto significaria dezenas de milhões de novos empregos verdes.
- Reduzir a poluição do ar causada pelos transportes em algumas cidades até 45%.
- Reduzir as emissões dos transportes urbanos em mais de metade até 2030, conforme necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris e manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 ºC. Não providenciar apoios aos transportes públicos tornará impossível para as cidades reduzirem as emissões dos transportes e atingir zero emissões até 2050, visto que os transportes representam cerca de um terço das emissões das cidades da C40.
- Proteger dezenas de milhões de trabalhadores em empregos com baixos rendimentos e no setor dos serviços, que foram heróis durante a pandemia e dependem dos transportes públicos para terem acesso aos seus meios de subsistência, incluindo pessoal hospitalar, trabalhadores do comércio a retalho e outros setores críticos na concretização da recuperação da Covid-19 para as cidades de todo o mundo.
- Ligar os residentes das cidades a oportunidades de trabalho e educação, atividades de lazer e uns aos outros é vital para criar comunidades vibrantes, prósperas e equitativas e apoiar os esforços de recuperação da pandemia.
A iniciativa “The Future is Public Transport” (“O futuro é o transporte público”) foi organizada conjuntamente pelas cidades da C40, coligação de cerca de 100 presidentes de câmaras de cidades líderes ao redor mundo, e pela Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF, em inglês), que representa 20 milhões de trabalhadores dos transportes. Este apelo ao investimento global faz parte da mobilização global dos presidentes de câmara das cidades da C40 para uma recuperação verde e justa da COVID-19, bem como para a missão da FITT de garantir empregos decentes para os trabalhadores dos transportes e garantir justiça económica, ambiental, racial e social para todos.
A campanha é apoiada por parceiros estratégicos da União Internacional dos Transportes Públicos (UITP), que representa 1800 empresas de transportes públicos, bem como a Confederação Sindical Internacional (ITUC, em inglês), os Serviços Públicos International (PSI, em inglês), a Greenpeace, a WIEGO: Mulheres no Trabalho Informal, a 350.org e o Instituto de Transportes e Políticas de Desenvolvimento (ITDP, em inglês)
CITAÇÕES
“O caminho para a recuperação se faz com investimentos nas infraestruturas de transporte, já que os transportes públicos são mais do que uma forma de deslocar as pessoas - são veículos para a oportunidade, equidade e uma melhor qualidade de vida”, afirmou o Presidente da C40 e Presidente da Câmara de Los Angeles, Eric Garcetti. “Este relatório consolida o que os presidentes de câmaras já sabem: qualquer recuperação da COVID-19 deve ser sustentável, justa, equitativa e impulsionada por investimentos nos transportes públicos que ajudem a criar emprego, reduzir as emissões e apoiar os cidadãos mais vulneráveis.”
Giuseppe Sala, Presidente da Câmara de Milão, afirmou: “Um sistema de transporte coletivo resiliente e bem equipado é fonte de emprego e prosperidade econômica nas cidades e é fundamental para garantir acesso justo à serviços e empregos essenciais. Não se trata apenas de se recuperar da pandemia: trata-se de transformar os nossos sistemas para funcionarem melhor em prol de todos nós. Junto a minha voz ao apelo ao investimento nos transportes públicos urbanos como medida prioritária em todos os planos de recuperação da COVID-19.”
“Neste momento, os governos de todo o mundo estão a trabalhar na preparação para a recuperação global e temos uma oportunidade crucial para impulsionar o desenvolvimento econômico que criará milhões de empregos decentes e sustentáveis, ao mesmo tempo que se acelera a ação climática”, afirmou John Mark Mwanika, Presidente do Comitê de Transporte Urbano da ITF. “Juntos - trabalhadores, passageiros, presidentes de câmaras e dirigentes sindicais - devem chamar a atenção para o motivo pelo qual o transportes público é importante e porque os investimentos que geram emprego são agora necessários para garantir que o futuro está nos sistemas de transportes públicos.”
“A pandemia da COVID-19 colocou o foco em como o transporte público também uma questão de justiça social e trouxe à tona as disparidades que ainda existem no sistema”, afirmou John Costa, Presidente do Sindicato Combinado dos Transportes (Amalgamated Transit Union). “O transporte público tem sido uma solução necessária para as nossas comunidades e trabalhadores essenciais, médicos, enfermeiros e agentes de serviços sanitários que têm de chegar aos seus empregos que salvam vidas. A pandemia também colocou os sistemas de transporte sob forte estresse, ao mesmo tempo que afetou desproporcionalmente a saúde e o bem-estar dos heróicos trabalhadores de transporte e motoristas que estão na linha de frente. O nosso sindicato perdeu mais de 140 colaboradores para este vírus devastador e milhares foram infetados. Juntamo-nos aos presidentes de câmaras, aos passageiros e aos defensores de transporte para exercer pressão no sentido de haver um investimento robusto nos sistemas de transporte público para gerar empregos abrangidos pelos sindicatos e expandir os serviços para aqueles que dependem deles todos os dias.”
“2021 é um ano em que as pessoas ainda vivem com a Covid-19, mas também é um ano em que os governos têm de implementar planos sérios de recuperação”, afirmou Sharan Burrow, Secretária-Geral da Confederação Sindical Internacional (ITUC). “A recuperação começa com os empregos - empregos sustentáveis e que se alinham a uma transição justa para responder à destruição em decorrente a pandemia. As cidades e o transporte público foram duramente atingidos pela necessidade de haver distanciamento social como resposta ao vírus. Mas podemos gerar milhões de empregos através de uma recuperação urbana sustentável. Temos de proteger os trabalhadores e investir nos seus futuro.”
“Os cidadãos, as cidades e o planeta ficarão melhores com mais transporte público”, afirmou Mohamed Mezghani, Secretário-Geral da UITP. “O transporte público melhora as nossas vidas de muitas maneiras e são um grande estímulo para as nossas economias recuperarem totalmente agora e para construirmos melhor no futuro”.
- FIM -
Notas para os editores:
O estudo destaca o impacto e os resultados da avaliação
O estudo “The Future of Public Transport”, criou quatro modelos de cidades para explorar a dinâmica completa dos três cenários: “Recuperação sustentável”, “Abandono dos transportes públicos” e “Business as usual”. Todas as cidades da C40 foram afetadas de maneiras diferentes durante a pandemia da COVID-19, já que cada uma tem um perfil de transportes diferente, dependendo da geografia, padrões de desenvolvimento, comportamentos dos passageiros, governança e cultura. Reconhecendo o conjunto diversificado de variáveis existentes, os analistas desenvolveram tipologias de cidades utilizando dois parâmetros principais: PIB per capita e proporção de utilização de automóveis em viagens de passageiros.
Os quatro modelos incluem: PIB maior, uso de carro menor (como em Atenas, na Grécia); PIB maior, uso de carro maior (como em Houston, nos EUA); PIB menor, uso de carro menor (como em Buenos Aires, na Argentina); e PIB menor, uso de carro maior (como na Cidade do Cabo, na África do Sul). A partir daí os analistas estudaram os benefícios resultantes dos incentivos sobre os empregos, as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e ganhos na qualidade do ar por cada categoria de cidade.
Criação de emprego
O cenário de “Recuperação sustentável” geraria entre seis a dez vezes mais postos de trabalho nos sistemas de transporte público até 2030, em contrapartida ao cenário de “Abandono dos transportes públicos”, em três das quatro cidades-modelo (PIB menor, uso de carro menor; PIB menor, uso de carro maior; PIB maior, uso de carro menor). A cidade com o modelo “PIB maior, uso de carro maior” é uma anomalia, visto que se estima que uma “Recuperação sustentável” gere quase 250 vezes mais empregos nos transportes públicos até 2030, comparativamente ao cenário de “Abandono dos transportes públicos”.
Emissões de gases com efeito de estufa
Até 2030, um cenário de “Recuperação sustentável” reduziria as emissões dos transportes das cidades até:
- 78% em cidades com o modelo “uso de carro menor, PIB maior”
- 71% em cidades com o modelo “uso de carro maior, PIB maior”
- 67% em cidades com o modelo “uso de carro menor, PIB menor”
- 34% em cidades com o modelo “uso de carro maior, PIB menor”
Ganhos na qualidade do ar
Até 2030, um cenário de “Recuperação sustentável” reduziria a concentração de PM2,5 das cidades até:
- 47% em cidades com o modelo “uso de carro menor, PIB maior”
- 45% em cidades com o modelo “uso de carro menor, PIB menor”
- 16% em cidades com o modelo “uso de carro maior, PIB maior”
- 13% em cidades com o modelo “uso de carro maior, PIB menor”
Nas cidades com o modelo “PIB maior, uso de carro maior”, o setor dos transportes é uma fonte significativa de emissões - o que significa que estas cidades precisam de fazer mais para cumprir os seus compromissos climáticos antes de 2050. Se estas cidades negligenciarem os transportes públicos, arriscam-se a não obter ganhos na redução das suas emissões de gases com efeito de estufa até 2030. As grandes cidades dos Estados Unidos estão esmagadoramente representadas no modelo “PIB maior, uso de carro maior”, sublinhando o potencial impacto significativo do investimento nos transportes públicos sobre a economia mais rica do mundo e o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa.
Os tipos de investimentos para estímulos que as cidades da C40 prepararam para os seus planos de ação climática incluem:
- Sistemas novos e melhorados de serviços diretos de autocarros, com serviços mais rápidos e frequentes, autocarros mais confortáveis e estações mais seguras e com melhores acessos
- Metro, comboios suburbanos e metros ligeiros novos e melhorados, com serviços mais rápidos e frequentes, carruagens novas e estações mais seguras e com melhores acessos
- Serviços de ferry elétrico
- Investimento em frotas de autocarros elétricos
- Modernização de transportes semicoletivos, passando para veículos mais ecológicos, incluindo miniautocarros elétricos
- Infraestruturas para carregamento da frota de veículos elétricos
- Sistemas integrados de bilhética e informações em tempo real
Em todo o mundo, uma recuperação sustentável significa mais empregos, tanto através de sistemas de transportes alargados, como indiretamente, através da abertura de oportunidades econômicas e educacionais, mais equidade social, maior proteção climática e melhor saúde pública para todos.
Sobre a Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes:
A Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF, em inglês) é uma federação democrática e liderada pelos afiliados, reconhecida como a principal autoridade mundial em transportes. Lutamos para melhorar a vida profissional, ligando sindicatos de 147 países para garantir direitos, igualdade e justiça para os seus membros. Somos a voz de quase 20 milhões de mulheres e homens que trabalham no setor de transporte em todo o mundo.
Sobre a C40 Cities:
A C40 é uma rede de cerca de 100 presidentes de câmaras de cidades, que estão a trabalhar para concretizar as medidas urgentes necessárias neste momento, com a finalidade de enfrentar a crise climática e criar um futuro onde todos, em todo o lado, possam prosperar. Os presidentes de câmaras das cidades da C40 estão empenhados em usar uma abordagem baseada na ciência e focada nas pessoas para ajudar o mundo a limitar o aquecimento global a 1,5 °C e construir comunidades saudáveis, equitativas e resilientes. Através de um Novo Pacto Sustentável Global, os presidentes de câmaras estão a trabalhar em parceria com uma ampla coligação de representantes dos trabalhadores, das empresas, do movimento dos jovens pelo clima e da sociedade civil para ir mais longe e mais rápido do que nunca. O presidente atual da C40 é o presidente da câmara de Los Angeles, Eric Garcetti; e o ex-presidente da câmara da cidade de Nova York durante três mandatos, Michael R. Bloomberg, é o atual Presidente do Conselho. O trabalho da C40 é possível graças aos nossos três patrocinadores estratégicos: Bloomberg Philanthropies, Children’s Investment Fund Foundation (CIFF) e Realdania.
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